quarta-feira, 2 de março de 2016


Se ara fosse o meu lembrar...


Searas soltas
ao acaso das coisas
subsistentes

trigais da minha infância
centeais prenhes
sussurrando dores
de parto doce
à pujança
dos grãos de julho em roda
de vinhedos

espigas dóceis, voz do vento
ondulando nelas
a sega e os suores
de corpos soçobrando
ao sol do pão

...e depois

na seara abandonada
pavios rasteiros
queimam ainda odores de erva doce
terra milagrosa
ofertando ao deus de agosto
memórias de seivas mornas
e papoilas

...e depois

a dança dos manguais
na eira quente
a melopeia candente dos suores
ao concerto másculo dos homens
malhadores

e a brisa do Marão
separando o grão da p(o)alha d’ouro
ao  ritmo do crivo breve
alongando a dança
das mulheres.

...e depois

há-de ser feito
do sol esmigalhado em sementes
que me conhecem
-
o melhor pão

há-de ser leito,
a palha das memórias rescendentes
que me adormecem

em oração.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013


(DA REDE,) DONDE TE BEIJAM MEUS OLHOS, DOURO
 
No fundo,
atrais-me sempre,
ao declamar natural
de um rio em verso:
 
Subo os olhos em silêncios,
em requebros, em emoção...
 
Desço-os em timbres lavados
de puríssima afeição!
 
No fundo,
esperas sempre,
entre as colinas deitado,
como num berço:
 
Embalo o amor que te tenho
no regresso da saudade...
 
E encho o peito de pura
sinestesia e vaidade.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

MIRADOURO


 
MIRADOURO

 

Há um rio

na minha margem da terra

que me leva à outra margem

de mim:

ouro em fio

visto do alto da serra

que justifica a nascente

donde vim.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

NÍVEOS REFLEXOS

(Régua, ao largo de um perfume de rosas - foto de TT)


Níveos reflexos


O Céu azulou de inveja
e plantou
(também)
rosas brancas
num canteiro ao erguer do olhar:

aqui, à berma de um rio
rio
beneficio
e agradeço
-
o perfume que me chega
é muito mais do que mereço...

VERDEGAR

Douro, por mim - 03/05/2013


VERDEGAR


Já é verde, à flor do Douro.

Na tona do olhar,
o alburno jovem da terra
permanece quase pó(len):

tinta fresca em estado de partículas
que chuvas mansas ainda hão-de diluir,
têmperas de sol ainda hão-de macerar
com perfumes de frutos e essências de vinhos
-
até à absorção fulcral
na epiderme dos xistos.

Até ao êxtase do olhar,
na contemplação do quadro,

ou até à maturação dos néctares,
à boca do cálice.

quinta-feira, 11 de abril de 2013


(foto de Teresa Teixeira)

 
 
MULHER-D’OURO

 
Numa era em que as palavras são só palavras e os valores estão desgastados
(Ainda) há uma voz solta do peito
Que (me) faz crer que os sonhos em poemas idealizados
São em tom rubro, de amor-perfeito…

Voz de menina-mulher
Na essência de ser
(E não ser)
O que quiser…

Pitada de inspiração
Nu(m) olhar emotivo
Cega rima-canção
De quem ama sem motivo…

Douro o rio-poema
Que (es)corre pela mão
Tesouro-tema
Em versos banhando o coração…

Pela janela da alma
A paisagem veste-se de candura
Palma com palma
O sentimento sem amarras, perdura!

 


(em dedicatória carinhosa)

(10.03.13)


segunda-feira, 11 de março de 2013

ao poeta Luís R. Santos "aquazulis", agradeço a belíssima "doação"...


videira






 







***


há uma videira cárnea que te sobe às curvas,
vibra, enleia o seio, toma a boca em floração...
rasga por ti acima, eclode em bagos de paixão
como sóis que se hasteiam em céus d'ardências turvas.

um bago, um poema. mil poemas, canção de uvas
borbulhante no cálix, na concha da tua mão,
que safras tais esfriam os lábios ao verão,
esses que sonham com rios, com fontes, com chuvas.

mutante, ora és videira, ora és mulher,
uma tão doce como a outra, fartas no colo,
ubérrima ao bardo que te souber colher.

e mirram-te os deuses, em iras invernais,
porque sabem que és fruto, és chuva, és solo,
fino aroma, rival dos bouquets celestiais.


(Luís R Santos)





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