quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Chora-me um rio...

Chorei um rio
que me trouxe ao colo
-ah, minhas águas sem dó,
meu trigo
que castiga
sem pedra ou mó!

Chora-me um rio
que trago em goles
-meu sangue adulterado,
meu vinho
do respigo
nunca vindimado...

Choro ainda e rio
de amor não consumado

e sulco em mim um rio:

serei sempre terra,
margem,
do Douro meu amado.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

(foto de Rui Pires, olhares.com)

VINHAS D'OIRO

Antes que venha o frio
estremecer-te a nudez
do repoiso de mãe fértil,
terra minha,
ornas de oiro ainda
as vinhas do teu regaço.

Antes que tenha o rio
de espelhar-te a palidez
do inciso alcantil,
terra minha,
adornas de sangue ainda
as faces do teu cansaço.

D'oiro e púrpuras,
terra minha,
é o teu ciclóide manto.

Partitura,
terra minha,
é o teu cicnóide canto.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

D'OURO LÍQUIDO

D'ouro líquido é o sangue que me corre
Nas veias desta terra minha carne,
Fino vinho que maturo no meu cerne
Com o amor que, de fértil, nunca morre.

D'ouro líquido é o laço que nos une
Numa prece erguida ao alto, em são labor,
E o cálice consagrado em altar-mor
É of'renda que ao mundo nos reúne.

Rio Douro é o espelho desta alma,
Que se veste, ano após ano, de luxúria
Na ânsia de celebrar fausta vindima.

Terra Douro é a paisagem que me acalma,
Mesmo quando regresso da minha fúria
De domar-te, árdua lida, encosta acima...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Se bem te lembro, Setembro...

Se bem me lembro, Setembro,
era à sombra dos teus dias
que colhia o mosto quente,
sangue de paixões de verão.

E o sol com que me olhavas,
se bem te lembro, Setembro,
era feito de saudades
colhidas em bagos doces...

Chovia, às vezes, e o beijo
que me davas, de tão húmido,
se bem me lembro, Setembro,
sagrava o vinho nas mãos.

No respigo que ficava,
ficava um tempo a passar
passas de um amor cumprido,
se bem te lembro, Setembro...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ARRAIAL DO RIO


Guardei estrelas cadentes
da chuva que o céu me deu,
certa noite aqui há dias

Ontem pus-me a brincar com elas,
atirando-as às mãos cheias
nas águas do rio Douro

Por cada uma, um desejo
e o sonho sempre criança
de que o rio fique d'ouro...

...para lá da meia noite.


quarta-feira, 14 de julho de 2010

SAIA DE CHITA


Comprei chita da melhor,
Duas alturas de metro
(Que a saia quer-se ao redor)
E costurei-a a preceito...

Era alegria em tecido,
A chita em mil tons campestres,
Como campo colorido
Plantado de flores silvestres.

Talhei-a em linhas singelas
Numa saiinha modesta,
Pra condizer co'as chinelas
A estrear pela festa.

Cosi-a com perfeição
E primor bem afinado,
Pois me diz o coração
Que vou achar namorado...

Ficou um perfume a flores
Na velha máquina Singer,
Foi das que cortei em dores
E que de mil cores me tingem.

Mas as que sobrarem, ah!,
Vou dá-las num laçarote
A um certo moço de cá
Em ronda do meu saiote!...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

MDCCXCVII




(Casa de infância)

Sou sempre da minha casa,
a casa que ainda sabe
o cheiro com que nasci.
Sou ainda flor de berma,
protegida pelas pedras
seguras e venerandas,
da rua onde passa o frio
do Marão.
Sou ainda inocência,
guardando o branco caiado
da casa da minha infância
num altar:
e ainda hoje ergo os olhos,
quando subo a calçada,
para as janelas rasgadas,
para as ombreiras cansadas
da porta rendida ao tempo,
que me concede a entrada
em tapete de granito
e saudades de outros tempos
em que o amor era lá dentro,
e lá dentro... era o mundo!
Fui duma casa tão grande,
aos meus olhos de menina!
Mas cresci e trago agora,
pra dentro da minha casa,
tanta coisa nos meus olhos,
que me parece pequena,
vista por dentro de mim,
a casa da minha infância!
Mas por fora...
ainda agora,
o tempo passa em respeito
de solene procissão
e se curva à dignidade
da singela inscrição
sobre a porta da entrada:
MDCCXCVII.

"Minha casa, tão velhinha,
É de pedras tão singelas!
Lembro que inda pequenina,
Já sonhava à guarda delas..."

sábado, 3 de julho de 2010

(o olhar da minha terra - Figueira)

Voltar...


lembra-me as cores das manhãs
em festejos musicados
pelas alegrias sãs
dos pássaros já em alerta
e p'los sinos embalados
de avé-marias despertas.

lembra-me o cheiro da terra
ao calor do meio dia
e o ecoar lá na serra
dum chamado às redondezas,
avisando que a Maria
já tem o comer na mesa.

lembra-me a brisa que vinha
do Marão à minha rua,
saltando rios e vinhas,
para acalmar os suores
d'estafas de sol a lua
em beijos reparadores.

lembra-me ouros de sol-pôr,
no Douro a derreter-se,
a jusante de um amor
amealhado às trindades
num recolher de uma prece,
pelo anoitecer das tardes.



quarta-feira, 9 de junho de 2010


CANTAR-TE-EI, DOURO


Cantar-te-ei, Douro,
enquanto minha terra,
cantar-te-ei, rio,
enquanto Douro em fio
no colo da serra
que é meu nascedouro!

Cantar-te-ei sempre,
enquanto não me doa
o olhar de ver-te
e o ousar d'escrever-te
sentida e sã loa
de quem conhece o ventre
que o nascer lhe sente
e cresce no caminho
onde se entreteve,
em embriaguez breve
de sulcos de vinho,
cantar-te-ei sempre!

Cantar-te-ei, Douro,
enquanto te trouxer
a bater no peito,
e os olhos não deito,
náufragos e sem ver,
ao meu morredouro...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

MENINA-DOS-OLHOS


Os meus olhos são de cor indefinida.
Um pouco de sol, com um pouco de sal,
Um toque de azul, em tinta dilúida,
Outro tanto em esperança, de verde noval.

Os meus olhos são os espelhos da terra,
Têm da cor, tudo o que o encanto alcança,
E o brilho todo que coroa a serra,
Quando o sol do dia, à tarde, já se cansa...

Os meus olhos são dois godés pequeninos
Onde misturo as tintas que se derramam
Nas paisagens onde se semeiam vinhos,
E no meu rio, onde terra e céu se amam.

Os meus olhos são de cor indefinida,
Fiel mescla de amenos semitons,
Paleta cromática, d' ouro tingida,
Onde rio e terra confundem os dons...
ARA-DOURO


Quem sabe a água que o meu rio-chora
Em vapores evolados e invisíveis?
Quem sabe quantas lágrimas tangíveis
Se libertam da terra amor-talhada
E condensam nos rostos que a laboram?...

Sei lá se o meu olhar inda erra-belo,
Sei lá se neste porto o ouro ancora,
Só sei que amor assim é sempre e agora,
Qu'esta terra já de si deu a mó-nada,
O grão, o sustento, e da pele, o velo...

Quem sabe até quando me é abriga-douro
O berço que me ornaram de veludo,
Onde cresço, sem espada e sem escudo,
Onde morro, a cada nova enxada-da
Escrita que lavro como tesouro...

E enterro, na eterna fé do D'ouro....

segunda-feira, 31 de maio de 2010

LUZ DE MAIO

A luz de Maio encheu os dias,
e quando o sol se deita em sesta tardia,
colhe texturas verdes,
nos calços derramados nas encostas.
A luz de Maio, neste Douro quase Junho,
filtra o verde-novo,
o multi-verde,
à flor da colcha penteada
em bardos disciplinados
e prestes a emprenhar vinhos.

Amo a luz de Maio nesta terra!
Nenhum outro mês consegue extrair do sol
a luz que sabe os verdes das vinhas,
os brilhos de veludo,
os azuis do céu,
os carmins das cerejas,
a paleta das flores,
os brilhos dos meus olhos...
e o rio das tintas misturadas,
onde lavo os pincéis...



Peso da Régua, 31 de Maio de 2010 às 18:10

sexta-feira, 21 de maio de 2010

CARTA DE AMOR


Quando me escolheste, nos primórdias de uma união eterna, eu era ainda jovem e intocada virgem, que rasgaste em requebros de viril paixão.
O teu beijo húmido percorreu-me de azul os meigos contornos, os abismos de perdição, os relevos generosos. Tinhas pressa de chegar ao êxtase da foz, ao tempero de sal, mas mesmo assim te deixaste perder nos meus sinuosos jogos de sedução, e eu, avara de ti, lacei-te, enlacei-te e deslacei-te a meu mel-prazer e a teu bel-prazer...
Às vezes, engrossado por raivas que te são sangue do teu sangue, inundas-me as orlas confiantes do teu toque, por norma meigo, e arrastas destruição e medos. Tantas vezes!... De todas eu te perdoo, fiel, e tu, arrependido, voltas ao (meu) teu leito, fertilizando de carícias redobradas as minhas margens emersas.
De tanto amor é feita a nossa história! Amor e perdão, paixão e languidez, suor e folia, vinhos e frutos, verdes e ocres, ouro e ruby!...
Cantam esse amor as gentes simples que nos veneram os laços: súbditos fiéis que te seguem o cortejo de real imponência e te aclamam azul, por reflexão do céu que te coroa; serventes dedicados, que me modelam as vestes, me cuidam a beleza e me nomeiam d'ouro...
Abençoados por Deus, somos supremo e fértil enlace, e as nossas bodas renovam-se sempre, a cada ano, em faustos festejos e brindes de vinho fino...

(DOURO - diálogos da Terra e do Rio)
TROVAS DA TERRA

Lavei um dia no Douro
Os lençóis de linho e rendas
Onde dorme o meu amor
Entre beijos e oferendas.

Mas o rio fez-se ciúme
Ao perceber o feitiço
Que restava em vestígios
De tão doce compromisso...

Mirou-me e molhou o olhar
Com lágrimas de pura dor,
Beijou-me as mãos e rogou-me
Para ser só seu amor.

Eu ri de tal pretensão,
Afaguei-lhe a inquietude,
Mas fui secar meu lençol
Pra longe do seu açude.

Ele, rio d' amores e mágoas,
Fez-se em ouro, sol e céu
E em oblação singular,
Converteu-se em colar meu!



(Romance triangular - Homem, Terra, Rio...)
ROGA DE VINDIMA

"Fui ao Douro às vindimas,
Não achei que vindimar,
Vindimaram-me as costelas
Olha o que lá fui buscar."

(Cancioneiro popular duriense)


Fui ao Douro à vindima,
Não achei que vindimar,
Vindimaram os meus olhos,
Colheram-mos para o lagar.

Não achei que vindimar,
Nem sequer um só baguinho,
Mas meus olhos d'uva preta
Apanharam-mos p'r'um cestinho.

Nem sequer um só baguinho
P'ra fazer um néctar doce,
Mas meus lábios de cereja
Quiseram-mos p'ra sua posse.

P'ra fazer um néctar doce
Com aroma a mosto fino,
No cálice dos meus abraços
Escreveram meu destino.

Com aroma a mosto fino
E cheirinho de hortelã,
Aromatizaram meus beijos
Certos olhos de avelã.

E cheirinho de hortelã,
Matizada de sol posto,
Beberam-me em copo d'ouro,
Em licor de fino gosto.

Matizada de sol posto,
Orvalhada de tons quentes,
Fui ao Douro à vindima,
Colhi só olhares ardentes...
BAGOS E BEIJOS

Soltam-se cachos de raparigas
pelas vinhas prenhes de Setembro,
embalam de risos e cantigas
cachos de socalcos em requebro

sobre o rio doce onde se miram
ensaiando matizes d'ouro antigo.
Soltam-se em cores e às cepas tiram
doce manancial, farto respigo.

Ajeitando o rubor das faces sãs,
reflectem seus cantares na limpidez
do Douro, companheiro de afãs,

que lhes cobiça, ciumento, os beijos
destinados aos bagos de languidez
que os moços lhes atiram, em desejos...

SOL, SUOR E MOSTO

Sol, suor e mosto
em dias de Agosto,
quando a uva feita
se apronta à colheita
em sede de vinho
tocado de gosto
mel e rosmaninho

Migas de sol posto,
com sabor de mosto
a brincar-me os lábios
de beijos e adágios,
rubros, sãos folguedos
tingindo-me o rosto
em tons de vinhedos

D'ouro e fino gosto,
barco em rio posto,
rabelo fecundo
descobrindo o mundo,
colinas vestidas
de chita onde encosto
sestas de Agosto

E tudo que aposto,
Douro que te gosto,
é a safra melhor
do meu peito amor
que guardo em fascínio,
cálice deposto
em sacro domínio

NOIVADO E CONSUMAÇÃO


Lá para fins de Agosto, ela estava pronta.

Linda, perfumada de fruta fresca, dourada de aromas quentes, seios de uva grada, dava-se aos olhos em promessas de vindima e gula...

Ele, perdido de amores por ela, de sempre devotado a ela, enlevava-se com a beleza da sua maturidade plena. Vira-a crescer, despontar os primeiros risos tenros, ousar os primeiro vestidos de moçoila, que ele ajudara, quase paternalmente, a ajeitar com laços e carícias, para permitir que o sol de verão lhe moldasse a doçura e a corasse de vida...

Havia-a cuidado, velado, protegido de males e perigos, com amor e dedicação, porque a sabia dele, para ele. Agora ela estava pronta... Virgem madura que se descobre desejada e se enfeita a primor para o seu homem...

...

Naquele dia, ela amanheceu húmida, tocada de uma frescura nova, a anunciar adeuses de Verão: era o Momento...

Já neblinas lhe rondavam os desejos de dar-se, como véus de noiva pronta. Desceu ao rio, mirou-se nas águas mansas que lhe murmuraram olhares cúmplices, penteou as tranças alinhadas, enfeitou-se dos melhores ouros, perfumou-se de mosto e deitou-se na colina, à sua espera...

Ele veio certo, com um assobio alegre entre os beijos prometidos, de mansinho, gozando em deleite os últimos olhares de sedução e os primeiro toques de posse...

Tomou-lhe com requintes a farta colheita, em luxúria de suores, vinho, sol e risos cantados...

Só o rio e o céu foram testemunhas desse acto de entrega e paixão. O sol, seduzido por uma jovem nuvem a prometer as primeiras chuvas, retirou-se, em rituais de namorico... e a própria brisa correu a esconder-se, mais por respeito que por pudor...

...Em metáfora de sementes, restaram, sobre a terra revolta, esparsos bagos de mel...
MANHÃS ANTIGAS

Relembro manhãs antigas em que o sol entrava, sem entraves de cortinas, no silêncio do meu quarto...
Havia tanta música no silêncio desse tempo, tanta paz, tanta harmonia!...

Era o cuco, ao longe, a anunciar que "a fim do mundo" não viria entre Março e Abril...
Os chilreios pendurados nas árvores vizinhas, a ensaiar sinfonias de Verão...
O ronronar dos atomizadores, ao longe, na árdua profilaxia dos míldios...
O zunir pachorrento de uma mosca, em acrobáticos voos de rotina...
Um chamamento, ao longe, da janela para a vinha em frente, musicado pelas ondas da distância quieta, cristalina...
O suspirar doce das rosas, em perfumada agonia, na jarra sobre a cómoda...
E o barulho mudo das partículas pacíficas, mansas, da poeira caseira, a bailar evidências fugazes, suspensas na ribalta de um feixe de sol...

Relembro o silêncio antigo do meu quarto e lembro, de fresco, de agora: a paz não é feita de silêncio puro... mas do silêncio inocente dos sons que já não há...





terça-feira, 18 de maio de 2010

CORRE-ME UM RIO NAS VEIAS


Corre-me um rio nas veias
Que me traz em encantamento
Fluindo entre as ameias
Das colinas que acalento.

E no coração, o Douro,
Sentido a suor e sangue,
Na esperança do tesouro
Da vindima que se segue...

Trago uma terra ao peito
Que me honra o nascimento
Sempre que os olhos lhe deito
No pulsar do sentimento!

E aos pés, em submissão,
Verde e azul rivalizam,
Num rio em reflexão
Das terras que o enraízam...

OUROS DO DOURO

A corrente que me traz presa contigo,
rio livre de insinuante abraçar,
é de ouro que te faz rimar comigo,
terra viva que te sorve o espelhar.

O fio d'ouro com que me adornas o colo,
rio Douro de precioso azular,
é enfeite que combina a cor do solo
com o brilho do teu húmido beijar...

...e é ver-nos, quando Agosto chega ao rubro,
passeando, lado a lado, em procissão,
eu, vaidosa, com arrecadas de ouros

enfeitando os declives de veludo,
e tu, meigo, enleando em cordão
as curvas dos meus seios já maduros...


(DOURO AO DOURO -diálogos entre terra e rio)
RESGATE D'OURO


Atirei os olhos ao rio
Como quem ao mar se lança
Num barco de esquecimento,
Tentando afogar a frio
O calor do pensamento...

As águas fundas salvaram-nos,
Em pétalas de ondas mansas
Que a brisa elevou em sopro
E de volta os entregaram
À praia ignota, meu corpo.

Vinham repletos de azul,
Que do céu nunca se cansa,
Os meus olhos resgatados!,
E do ouro do seu pecúlio
O rio os trouxe enfeitados!

E das vinhas, em altar-mor
De talha d'áurea fartança,
Recolheu uma oração
E espelhou-a em amor
Nos meus olhos e coração...

Fez-se de veludo o brilho
De todos os tons da esperança,
O fulgor dos olhos meus!...
E como quem segue um trilho,
Ergui-os, em graça, aos Céus!

E como quem nina um filho
E nos braços o balança,
Na alma tomei o Douro,
E em precioso caixilho
O guardei, como tesouro!...



segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Dez-a-fio"

(BREJEIRICES)

"Assim se amassa, assim se peneira, assim se dá volta ao pão da masseira..."


J'amassaste o pão há horas,
Está pronto a meter ó forno,
Bê lá tu se não demoras,
Que estou a ficar com sono!

J'amassei o pão há horas,
Mas ainda num está lêbedo,
Chegas a casa a desoras,
E inda por cima bens bêbado!?...

Ó mulher, num benho nada!,
Com esta já lá bão três,
Faz lá tu a quarta quadra,
Qu'inda consigo ir às dez!...

Ó homem, num faço nada,
Qu'o pão cresce na gamela,
Ajuda-me aqui co'a fornada,
Que tenho mãos de donzela...

Pra isso tens que tender
A broa bem 'farinhada,
Depois t'ajudo a meter
A pá bem endireitada.

Pra isso tens qu'aquecer
O forno no ponto certo,
Põe mas é lá isso a arder,
Gosto do forno desperto!

Ai, mulher, num aguento,
Já lá bai longa a faina,
Já trabalhei tanto tempo,
E tu queres inda mais lanha!?...

Ai, homem, num t'aguento!
Queres ou não qu' a côdea estale?
O pão cozido no ponto,
Dize lá, quanto num bale?...

Tás-me a ficar entendida,
Sim, senhor, lucro teria,
Se te montasse, querida,
Uma bela padaria!...

Tás-me a ficar atrebido!...
Olha!, já queimaste a pá!
E agora?... o pão tendido...
E metê-lo...já não dá!!!


(Num te queixes, ó mulher,
A seguir ó dez bem onze,
Bou já outra pá fazer
E começamos no doze!...)

"Dois-a-fio"

"No tempo do cerejo, vem meu beijo!..."


"Do cerejo ao castanho, bem me amanho, do castanho ao cerejo, mal me eu vejo!", já se dizia na minha terra...


Não olhes pra mim assim,
Que o meu rosto se acereja,
E pra que falem de mim,
Basta que pouco se veja!

Se o calor do meu olhar
Te amadurece o afecto,
Que mal há em mordiscar
O meu fruto predilecto!?...

Pardais, por aí há tantos,
Tem cuidado, vê lá bem,
Se por minha arte' encantos
Te tornas pardal também!

A ser, que fosse matreiro
E te pousasse no colo,
Do teu corpo cerejeiro
Roubasse fruta e consolo...

Ai rapaz, tu tem-me tento!
Não percebes meu aviso?
Há caçadores sempre atentos
A pardais sem bom juízo!

Por ti, cerdeira madura,
Arrisco até minhas penas,
Pois são de paixão segura
As cerejas que me acenas!...


quinta-feira, 29 de abril de 2010

LAMEGO, MEU ACONCHEGO

No peito tenho-te minha
cidade de verde e pedras
talhadas em brasão nobre
e respeito em lar de pobre.

Nos olhos, mesmo fechados,
guardo em torre de menagem
um cavaleiro altivo
fiel ao reino cativo

dos meus sonhos de menina
encantada de princesa...
Subo agora a escadaria,
Remédios é romaria,

e ajoelho o olhar,
em louvor de alma amante...
e rezo à azul Senhora
pela beleza que mora

nos vinhedos verdejantes,
na serra mãe protectora,
nas pedras que sabem história,
nos jardins de justa glória...

Há ainda uma saudade
que me bate à porta entrando,
sempre que lembro Lamego
e me aninha o aconchego

do seu regaço em carícias...
bebo das suas delícias,
como o farnel de romeiro
e adormeço ao seu colo...

...à sombra do castanheiro...*




*existe um castanheiro secular, de diâmetro invejável, no largo do Santuário de Nª Srª dos Remédios, "ex-libris" da cidade, onde está inscrito:

"Já fizeste a romaria,
Obrigada bom romeiro,
Come agora o teu farnel
À sombra do castanheiro"
"OLH'ÓS REBUÇADOS DA RÉGUA!!..."*


Levo-te a ponto de rebuçado,
virgem cidade que é meu cado,
e bebo o néctar chamado porto,
fruto do vale que assim exorto!

Tanto de rio, tanto de ouro,
olhar calado, onde me ancoro...
dum rio Douro a amar-te em cio,
beijo molhado, a quente e frio.

Levo-te em doce barco rabelo,

minha epopeia em fado de sê-lo,
rumo ao Porto, porto partido,
em tonéis de ventre apetecido...

Da Régua sai-me o néctar que doo,
alma de um povo, alma do Douro,
sol prisioneiro a bem desterrado
p'lo mundo inteiro, engarrafado.

Leva no rótulo a marca dos beijos
que na vindima são de desejos,
e, só por isso, sol redimido,
por em si levar o amor sentido...

....é redenção, a fama que ganha,
e quase todo o orgulho que tenha,
passa na Régua, à sombra das vinhas,
em afãs de glórias também minhas...




*Pregão das rebuçadeiras da Régua. Os rebuçados da Régua são uma guloseima típica da cidade, feita de açucar caramelizado, produzidos e embalados artesanalmente. (leia em http://www.dodouro.com/noticia.asp?idEdicao=207&id=11186&idSeccao=2265&Action=noticia)


CERDEIRAS EM FLOR

"Nas margens do Douro,
De Penajóia a Resende
Noivam cerejeiras..."

Quando o sol beija as flores
da infanta Primavera,
sai do bragal a alvura
do manto das cerejeiras
que renovam a virgindade
e se vestem de luxúria...
E, em ritos de divindade,
o rio as reflecte em êxtase,
em improvável diástese
de azuis e verdes fluídos
rendilhados a promessas
de rubros beijos de Verão,
quando as cerdeiras moçoilas
tiverem lábios cereja
e ardores de pura paixão...
CÁLICE DE PORTO

À transparência de cristal
remiro um cálice guardado
por séculos de namoramento...
Em paixão,
sorvo as colinas em mosto,
os bagos sumos de Agosto,
o aroma rico de frutas
de Verão...
Um rio doura-me o cálice
dos meus olhos embriagados
da terra que bebo em goles
e subo a calços bordados
a xisto e suor dos solos...
E sinto entranhar-me o peito,
até à foz da minh'alma,
a veneração e respeito
às gentes de riso aberto
que pisaram sua vida
na lida da descoberta
do ouro feito a preceito
e gosto a mel e sol fino,
néctar puro em tons de vinho!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

ERA UMA VEZ, NUM REINO DOURO...

Azul de cobalto líquido,
Mancebo chamado rio,
Douro de berço nascido
Criado em lençóis de brio...

Era de vinha seu reino,
Sua amada, a Terra fértil,
Seus filhos, cachos em treino,
De peleja ordeira e ágil.

Mas um dia a Amendoeira
Vestiu-se de branco e rendas,
Bordou-se de primavera,
Mirou nele as oferendas...

E o rio traíu a Terra,
Por paixão, jogou o reino,
Por amor, deixou a guerra,
Quedou-se, de olhar sereno...

No encanto, a amendoeira,
Ruborizou as flores brancas,
De enlevo, à sua beira,
Descalçou-se das tamancas...

Foi paixão de Primavera,
Breve amor de curto encanto,
E as lágrimas da amendoeira
Foram pérolas de pranto...

Pétalas a vagar no rio
Num lamento de ciúme
Da Terra em gamões de cio...
E o Douro esquece o queixume.

De verde e rico veludo
A vinha atrai seu amante,
A amendoeira vê tudo,
Resta-lhe o fruto abundante.

E a Natureza sorri,
Cumpre-se o ciclo da Vida,
Limita-se a fazer de júri...
"Sessão a ser dissolvida..."




Voz e escolha musical: Rute Gomes

quarta-feira, 21 de abril de 2010

DOURO EM FLOR DE AMÊNDOA

Quando se vestem as colinas
de noiva e branco,
durmo contigo, beijo de sol,
licor de pranto...
dispo a neblina, enfeito a flores
e bordo a encanto
um rio doce, dormido a azul,
que amo tanto!...

Quando te despes, amante sol,
noite de núpcias,
visto corolas de amor brincado
com mil astúcias...
travo de amêndoa, neve ilusão,
doce e carícias,
douro-te a mel, pão fermentado,
flor de delícias!...



Voz e escolha musical de Rute Gomes:
DA TERRA E DO RIO

(Da Terra, que direi?... só amá-la eu sei!...)

Douro verde e meiga, que feitiço abrigas,
no manto tecido de afagos quentes
que o sol que namoras e por ti se rende
estende nos calços de videiras pródigas?...

Douro são teus seios de cachos nascidos
em bardos bordados no berço das vinhas,
com suor talhados a rendas e linhas
e paixão de homens a enxada sentidas!

Douro de vaidades ornadas de verde
baixando seus olhos no rio sereno,
mesmo quando o frio lh'aperta o Inverno,
certa da beleza que zela e não perde!

Douro de declives em forma de cálice
Onde o sol se toma, em néctar de deuses,
em brinde de honras e ritos corteses,
penhora de olhares em desejo cúmplice...


(Do rio, que contar?... só o sei amar!...)

Douro azul e ágil que buscas nas franjas
o calor do abraço e meigo remanso
das colinas doces que refectes manso,
quando o Sol se deita nos lençóis das granjas...

Douro são teus prantos de águas rebeldes
quando de paixão beijas doces pregas
do corpo de virgem prenhe de entregas
à mercê de ânsias do amante em sedes.

Douro são teus brilhos de fluídas gemas
em colar de enfeite de colo macio,
carícia enleante em leito de rio,
lavra perfumada de rima e poemas...

Douro que eu sorvo em tragos de êxtase
sempre que o ouro se funde nas águas,
vinho fino e sol, ourelas da Régua,
eterna beleza em infiel diástase...



Voz e escolha musical de Rute Gomes:
AMO-TE, DOURO...

(Hoje trago-vos um pouco do meu Douro, com pitadinhas muito regionais de termos e costumes...)


Eu amo este meu Douro
De vinhas e rio feito,
Quando se veste de frio
E demarca a codo*
E espelha a ouro
As entranhas dum tesouro...

Eu amo este meu Sol
A tanta beleza afeito,
Que à sua arte confio
Os retoques de azul
A cobrir os gamões* jovens
De sulfato* e suor d'homens!

Eu amo este meu Solo
De xistos, onde me deito
Nas tardes de sesta e estio,
Quando o labor pede colo
E as uvas pesam esperança
De tonéis* e abastança!

Eu amo esta minha Terra
Mirada em sereno leito
Dum amante que é um rio
E a mira do vale à serra,
Na esperança que a vindima
Lhe traga bodas de faina...

Eu amo este meu Douro
Que o Outono d'ouro enfeita.
Rubis, ocres, cores em fio,
Êxtase de final labor
Nos dias de sol fugaz
Quando a tesoura* se faz...

Eu amo este meu Canto
D' estrofes em altar feitas,
Mesmo se o génio do rio,
Quando à chuva bebe o pranto,
Invade pontes e margens
Exigindo vassalagens...

Eu amo este meu Povo,
Mimando a seu jeito
Folgazão e sadio,
Com arraial e fogo,
Os santos que das ermidas*
Velam as vinhas garridas!

Amo-te, Douro antigo,
Douro vivo, Douro rio,
Douro terra, Douro amigo!



*codo - o mesmo que códão, terra húmida endurecida pelo gelo
*gamões - rebentos das videiras
*sulfato - calda de cor azul, com sulfato de cobre, fungicida
*tonéis - grande barris (cascos) de carvalho, para armazenamento do vinho
*tesoura - poda
*ermidas - pequenas capelas, geralmente implantadas no alto dum monte (elevação) ermo.




Voz e escolha musical: Rute Gomes
BAGOS E BEIJOS

Soltam-se cachos de raparigas
pelas vinhas prenhes de Setembro,
embalam de risos e cantigas
cachos de socalcos em requebro

sobre o rio doce onde se miram
ensaiando matizes d'ouro antigo.
Soltam-se em cores e às cepas tiram
doce manancial, farto respigo.

Ajeitando o rubor das faces sãs,
reflectem seus cantares na limpidez
do Douro, companheiro de afãs,

que lhes cobiça, ciumento, os beijos
destinados aos bagos de languidez
que os moços lhes atiram, em desejos...

D'OURO E VINDIMAS


"Fui ao Douro às vindimas,
Não achei que vindimar,
Vindimaram-me as costelas
Olha o que lá fui buscar."

(Cancioneiro popular duriense)


Fui ao Douro à vindima,
Não achei que vindimar,
Vindimaram os meus olhos,
Colheram-mos para o lagar.

Não achei que vindimar,
Nem sequer um só baguinho,
Mas meus olhos d'uva preta
Apanharam-mos p'r'um cestinho.

Nem sequer um só baguinho
P'ra fazer um néctar doce,
Mas meus lábios de cereja
Quiseram-mos p'ra sua posse.

P'ra fazer um néctar doce
Com aroma a mosto fino,
No cálice dos meus abraços
Escreveram meu destino.

Com aroma a mosto fino
E cheirinho de hortelã,
Aromatizaram meus beijos
Certos olhos de avelã.

E cheirinho de hortelã,
Matizada de sol posto,
Beberam-me em copo d'ouro,
Em licor de fino gosto.

Matizada de sol posto,
Orvalhada de tons quentes,
Fui ao Douro à vindima,
Colhi só olhares ardentes...

RUA DA SAUDADE

Que saudades da minha rua
Nas tardinhas de Verão!
Quando a aragem brincava,
A esconder-se do calor,
E subia a calçada,
Direitinha do Marão!

Tantas saudades, tantas!,
Das sestas ao relentinho,
Ou na soleira da porta,
Aprendendo a bordar
Flores que minha mãe plantava
Em retalhos de branco linho!

Que saudades das Trindades
Em ecos na minha rua...
Quando aplacavam os suores,
Chamando aos doces lares
Afazeres de sol-a-sol,
Afagos de lua-a-lua!

Com as pedrinhas lavadas
Pela chuva de Verão...
Que saudades da minha rua,
Em subida para o céu,
Atapetada de flores
Em dias de procissão!

Que saudades da minha rua!
Dos Domingos soalheiros,
Quando os moços se vestiam
De lavado e bailarico,
E sua alegria enfeitavam
De namoricos brejeiros!

Tantas saudades me dá
Lembrar o ledo bulício
Da minha rua que era
Avenida Principal
Dum tempo em que minha aldeia
Era meu Mundo patricio!

Que saudades das vindimas,
Quando a azáfama era crescendo
Na calçada adocicada
Pelas lágrimas dos bagos
Sacrificados nas rodas
Dos carros de bois, tangendo...

E o aroma de açúcares
Ainda hoje os sinto assim,
No melhor cofre que guardo,
Junto com os sons do fado,
No altar de viva saudade
Que mora dentro de mim...

Hoje só o silêncio mora
Na minha rua esquecida...
As gentes negam-lhe os passos,
Preferem estradas e carros
E desdenham a calçada
Onde pisaram a Vida...

(A calçada da minha rua é a subir e a descer...
... assim como a minha Vida, calçadinha de sofrer...)


Voz e escolha musical: Rute Gomes
LEITO ONDE ME DEITO


Sei do teu leito a seda,
Ondulada por desejos...
Sei do teu brilho os beijos,
Reflectindo o luar...
Adormeço os meus sonhos
Ornada por teu lençol,
Cubro-te de colchas bordadas
Por carícias de mosto e sol...
Atravessas-me, sob encanto,
Rasgas gargantas em mim,
Modulas teus doces cantos
Na doçura dos meus seios.
Dás-me a cor do meu olhar,
Mergulho no teu azul,
Invades-me, senhor de mim,
Fertilizas minhas margens,
Quando de paixão extravasas
E me inundas o jardim...
Contornas-me as curvas doces
Em sensualidades subtis...
Fazes de mim o desejo
De lábios apaixonados
Quando sorvem o meu néctar,
Rio de sonhos dourados...
Sei de ti e sou de ti...
És meu cio, és meu rio...



(ao DOURO, pelo DOURO... ao RIO, pela TERRA)


Voz e escolha musical: Rute Gomes

terça-feira, 20 de abril de 2010

OUROS DO DOURO

A corrente que me traz presa contigo,
rio livre de insinuante abraçar,
é de ouro que te faz rimar comigo,
terra viva que te sorve o espelhar.

O cordão com que me adornas o colo,
rio Douro de precioso azular,
é enfeite que combina a cor do solo
com o brilho do teu húmido beijar...

...e é ver-nos, quando Agosto chega ao rubro,
passeando, lado a lado, em procissão,
eu, vaidosa, com arrecadas de ouros

enfeitando os declives de veludo,
e tu, meigo, enleando em comoção
as curvas dos meus seios já maduros...


(DOURO AO DOURO -diálogos entre terra e rio)


SONETO D'OURO

AO DOURO, MEU RIO, MINHA TERRA
(Meu berço, meu verso...)

O meu rio lava as águas no ouro
Que colhe das colinas debruçadas,
Enfeitadas de belas arrecadas
De cachos que são seu doce tesouro.

Meu rio lava o suor de cristal
Manchado pelo pó da árdua lida
Dos homens que penhoram sua vida
À amante que é seu manancial...

Por ela bordam vinhedos de veludo,
Com linhas inventadas em paixão,
Nos seios dessa terra d'ouro e mosto.

E o meu rio passa, silente e mudo,
Em respeito de solene procissão,
Sonhando co' as cobertas de Agosto...



segunda-feira, 19 de abril de 2010

RAMO DE VINDIMA*


Se um rio passar por mim,
na foz que ainda não sei,
será de ouro o meu fim
e a chave com que fechei
o serpear entre vinhas.
Seja então eu raíz doce
de vozes que não são minhas,
mas do amor que me trouxe...
Se um rio passar por mim,
que seja o Douro, corcel,
e me arrebate ao selim,
que quero ser azemel
de novidade esperada,
levar ao mundo, cantando,
ecos de terra lavrada
na voz que vou calejando...
Se um rio passar por mim
a juzante desta terra,
seja a saudade coxim
onde a minh'alma se entrega
dos cansaços desta lida
rio abaixo-terra acima,
nos rabelos desta vida,
nos calços da minha teima

e num ramo de vindima...


*O ramo da vindima simboliza o final da colheita e é feito pelos vindimadores para oferecer ao patrão, no almejo de boa gorjeta.









DOURO MEU, MEU DOURO

É tão fácil ser poeta
entre as colinas do Douro!
Acho que Deus, que foi Deus,
não resistiu e foi mestre
em perfeito arrebatamento
de inspirado criador!
E, em êxtase de primor,
moldou suaves texturas,
enfeitou-as de luxúria,
escreveu nelas a (D)ouro,
tocou de leve o macio
ventre da terra a quem deu
dons e graças de mãe fértil!...
E não ainda satisfeito,
querendo o quadro perfeito,
pintou o sol de calor,
e do céu escorreu a cor
que lavou nas águas doces
do rio traçado a amor
nos mansos vales fecundos...
Mas Deus, que foi Deus,
tocado de empenho profundo,
achou incompleta a obra,
e por amor ordenou
que o Homem lhe desvendasse
o mistério da beleza,
e para sempre guardasse,
em labor de perfeição,
a Terra que elegeu
como Sua dilecta obra...
Não sei se é por ser minha,
mas esta dádiva divina
é inspiração que me toma
em poesia, em veneração,
sempre que olho os vinhedos
ajoelhados em prece
sobre o rio em procissão...
E recito sempre um poema,
quando chego à sua estrema...
É tão fácil ser poeta
entre as carícias do Douro!...