quinta-feira, 8 de julho de 2010

MDCCXCVII




(Casa de infância)

Sou sempre da minha casa,
a casa que ainda sabe
o cheiro com que nasci.
Sou ainda flor de berma,
protegida pelas pedras
seguras e venerandas,
da rua onde passa o frio
do Marão.
Sou ainda inocência,
guardando o branco caiado
da casa da minha infância
num altar:
e ainda hoje ergo os olhos,
quando subo a calçada,
para as janelas rasgadas,
para as ombreiras cansadas
da porta rendida ao tempo,
que me concede a entrada
em tapete de granito
e saudades de outros tempos
em que o amor era lá dentro,
e lá dentro... era o mundo!
Fui duma casa tão grande,
aos meus olhos de menina!
Mas cresci e trago agora,
pra dentro da minha casa,
tanta coisa nos meus olhos,
que me parece pequena,
vista por dentro de mim,
a casa da minha infância!
Mas por fora...
ainda agora,
o tempo passa em respeito
de solene procissão
e se curva à dignidade
da singela inscrição
sobre a porta da entrada:
MDCCXCVII.

"Minha casa, tão velhinha,
É de pedras tão singelas!
Lembro que inda pequenina,
Já sonhava à guarda delas..."

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