quarta-feira, 30 de outubro de 2013


(DA REDE,) DONDE TE BEIJAM MEUS OLHOS, DOURO
 
No fundo,
atrais-me sempre,
ao declamar natural
de um rio em verso:
 
Subo os olhos em silêncios,
em requebros, em emoção...
 
Desço-os em timbres lavados
de puríssima afeição!
 
No fundo,
esperas sempre,
entre as colinas deitado,
como num berço:
 
Embalo o amor que te tenho
no regresso da saudade...
 
E encho o peito de pura
sinestesia e vaidade.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

MIRADOURO


 
MIRADOURO

 

Há um rio

na minha margem da terra

que me leva à outra margem

de mim:

ouro em fio

visto do alto da serra

que justifica a nascente

donde vim.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

NÍVEOS REFLEXOS

(Régua, ao largo de um perfume de rosas - foto de TT)


Níveos reflexos


O Céu azulou de inveja
e plantou
(também)
rosas brancas
num canteiro ao erguer do olhar:

aqui, à berma de um rio
rio
beneficio
e agradeço
-
o perfume que me chega
é muito mais do que mereço...

VERDEGAR

Douro, por mim - 03/05/2013


VERDEGAR


Já é verde, à flor do Douro.

Na tona do olhar,
o alburno jovem da terra
permanece quase pó(len):

tinta fresca em estado de partículas
que chuvas mansas ainda hão-de diluir,
têmperas de sol ainda hão-de macerar
com perfumes de frutos e essências de vinhos
-
até à absorção fulcral
na epiderme dos xistos.

Até ao êxtase do olhar,
na contemplação do quadro,

ou até à maturação dos néctares,
à boca do cálice.

quinta-feira, 11 de abril de 2013


(foto de Teresa Teixeira)

 
 
MULHER-D’OURO

 
Numa era em que as palavras são só palavras e os valores estão desgastados
(Ainda) há uma voz solta do peito
Que (me) faz crer que os sonhos em poemas idealizados
São em tom rubro, de amor-perfeito…

Voz de menina-mulher
Na essência de ser
(E não ser)
O que quiser…

Pitada de inspiração
Nu(m) olhar emotivo
Cega rima-canção
De quem ama sem motivo…

Douro o rio-poema
Que (es)corre pela mão
Tesouro-tema
Em versos banhando o coração…

Pela janela da alma
A paisagem veste-se de candura
Palma com palma
O sentimento sem amarras, perdura!

 


(em dedicatória carinhosa)

(10.03.13)


segunda-feira, 11 de março de 2013

ao poeta Luís R. Santos "aquazulis", agradeço a belíssima "doação"...


videira






 







***


há uma videira cárnea que te sobe às curvas,
vibra, enleia o seio, toma a boca em floração...
rasga por ti acima, eclode em bagos de paixão
como sóis que se hasteiam em céus d'ardências turvas.

um bago, um poema. mil poemas, canção de uvas
borbulhante no cálix, na concha da tua mão,
que safras tais esfriam os lábios ao verão,
esses que sonham com rios, com fontes, com chuvas.

mutante, ora és videira, ora és mulher,
uma tão doce como a outra, fartas no colo,
ubérrima ao bardo que te souber colher.

e mirram-te os deuses, em iras invernais,
porque sabem que és fruto, és chuva, és solo,
fino aroma, rival dos bouquets celestiais.


(Luís R Santos)





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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"Um abracinho... num é pecado"


(intertextualidades cândidas)
"um abraço é pouco,
dois é conta certa,
dá-me cá mais outro,
ora aperta, aperta..."






dá-me cá mais dois,
que te quero a par,
um beijo despois,
que estou a gostar

ai um abracinho
quando é bem dado,
meu namoradinho,
ai, num é pecado

sempre que te beijo,
com os olhos meus
num sei que lampeijo
há nos olhos teus

se te fores imbora
pr'as franças distantes
leba-me senhora
ou atão amante

que te quero munto,
que te quero tanto,
contigo inté junto
trapinhos e canto:

dá-me um anelzinho,
de lata, que seija,
sem missa ou padrinho,
sem letria ó igreja...

só te quero assim,
junt'ó coração,
'braçadinho a mim,
não me deixes, não!


 
"Ai que linda troca d'olhos..."
 
 
 
Ai que linda troca d'olhos
fizeram agora ali
trocaram-se uns olhos pretos
por uns azuis, que'eu bem vi"
(cancioneiro popular)


Foi negócio a céu aberto,
lá na feira de Mesão,
o vendedor, bem decerto,
tem à freguesa afeição...

Pois não houve regateio,
foi um dá-cá e toma-lá,
e o troco, neste enleio,
só no coração se dá.

Que lindos, os olhos qu'ela
deu à troca, pelos dele,
eu sei qu'outra clientela
por eles dava um anel!

Negros, feitos do mistério
onde o amor s'aconchega,
de moçoila em porte sério,
mas qu'a folia num nega...

Que lindos, os olhos qu'ele,
lh'ofer'ceu apaixonado,
safiras para o anel
prometido pró noivado.

Azuis, onde guarda o mar
que trouxe um dia do Porto
pra um dia o poder dar
a quem lhe desse conforto.

Ai que linda troca d'olhos
fizeram agora ali,
só falta bordar os folhos
do vestido d'organdi!



sábado, 9 de fevereiro de 2013




(Serra do Marão - foto da autora)

no alto daquela serra




...não te sei dizer do friso frio das montanhas,
porque nunca conheci os contornos da areia quente

não te sei dizer da música musa do silêncio,
porque nunca ouvi o estridente grito das sirenes

e não te sei dizer dos risos dos rios nascentes,
porque nunca vi chorar uma criança triste...

só sei das comparações,
porque me disseste:


"-és tão pura como a brisa que nomeia as flores,
tão maternal e precisa
como a Natureza e os seus favores".

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013




TANTUM ERGO



As vozes erguiam os joelhos das pedras e subiam aos céus, num coro cândido, que a abóbada da igreja filtrava, numa estranha e mística sonoridade. Era a hora do Tantum Ergo:

 “Praestet fides supplementum sensuum defectui…”,

que à luz da rústica realidade  se poderia traduzir assim:

“Sirva a fé de suplemento à fraqueza de instrumentos”

– musicais e de ensaio técnico, porque as vozes, essas, pareciam já nascer nascidas, espontaneamente se dividiam em tenores, baixos, sopranos e contraltos e se harmonizavam “a capella”.

Pareceria que um maestro invisível as comandava com precisão atenta e dinâmico incentivo. Homens e mulheres se revezavam, entoando os versos, elevando-os acima dos seus simples e mal pronunciados dizeres de latim, acima da vernaculidade, acima do orgulho de talentos vocais, ou da timidez por falta deles.

Era um momento único, um momento de forte espiritualidade e de união. O pequeno templo parecia ascender, numa névoa de incenso, a um Céu infinitamente grande dentro de nós. De mim.

Eu era pequena e tudo me parecia grande nessa época – a igreja, a minha aldeia, o Céu. Tão grande, que, sentir-me dentro dele, nos instantes que durava o cântico do “Tantum ergo”, era recear  perder-me nele…

Mas não. O que perdi, o que perdemos todos, foi o próprio Céu. Talvez a culpa seja dos tempos, das igrejas que se tornam cada vez mais pequenas, às vezes até invisíveis, das vozes que se calaram, dos órgãos electrónicos, dos coros com ensaio marcado, do silêncio das vaidades ou do barulho da Vida… ou, simplesmente, do nosso próprio crescimento, da nossa própria perda de inocência…

Ah, que saudades do “Tantum ergo” que (ainda) se canta na minha terra!

sábado, 19 de janeiro de 2013


(foto da autora: miradouro de S. Leonardo de Galafura)

POEMA A DOIS ESCRITO, POEMA A OURO LAVRADO
(diálogos da Terra e do Rio)

Te contemplo com o olhar de Menina-Mulher
Adivinho o coração aroma-de-mel
E a água cristalina do teu ventre, genuíno Ser
Douro és mais que poema, és anel!

Reflito-te,  em adoração de Homem-Menino,
E do fundo dos meus olhos cor-de-ouro
Sorrio-te, como infante pequenino,
Que no teu colo vem guardar o seu tesouro.

Suavemente, enfeito-te ao meu gosto
Dos lábios sumarentos provo o beijo
Cachos de uva são o saboroso mosto
Enternecendo o calor do nosso ensejo!

Ternamente te enlaço, Terra amada,
Como jóia que mereces por direito
E no estio, nossa boda é festejada
Pelas vinhas que tu bordaste a preceito…

Oh! Douro-Poema, Homem-Menino
Que estranha vontade esta de te tocar!
Porque serás sempre o melhor destino?
E o único a quem tenho amor p’ra dar?

Oh, Poema-Douro, Menina-Mulher,
Que prazer eu tenho em te adornar!
Para te ver, quando o Inverno vier,
Despir,  e no meu leito aconchegar!


Oh! Douro-Poema, Homem-Menino
Se soubesses quanta vida me dás!
Em ti, nenhum sonho é pequenino
Minha alma jamais olha p’ra trás!

Oh, Douro-Poema, Mulher-Menina,
Quanto da minha história se faz a tua!
Ao Mundo, a Natureza aqui ensina
Que a beleza o trabalho apazigua!!

15.01.13

Numa linda e gratificante parceria poética com Jessica Neves 

(http://sempapelecanetacomalmaecoracao.blogspot.pt/)
cantando ao desafio o namoro da Terra-Douro e do Douro-Rio.
Obrigada, Jessica, orgulho-me de ter-te comigo!